Com los Recuerdos al hombro

FIQUE RICO SEM SAIR DE CASA

16 de abr. de 2010

A morte do tio Milton

Anteriormente escrevi que algumas coisas ficam na nossa lembraça para sempre. Algumas são tão fortes que parecem que aconteceram recentemente. Porém, à memória não é possivel lembrar-se de tudo perfeitamente. O tempo apaga algumas coisas que o nosso cérebro considerada periférico para poder guardar outras mais importantes.
O que eu quero dizer é que me lembro vagamente da morte do tio Milton. Muito pouco sei sobre isso. Sei perfeitamente o que ocasionou a sua morte. E tem trazido transtornos à minha familia até os dias atuais. Uns dizem até, exageradamente é claro, que isso é um castigo de Deus. Não sei. Não creio muito nessas profecias malditas.
O Milton era o único filho macho da minha vó materna. Era o mais jovem também. Ele faleceu no fim dos anos oitenta. Tinha só quatorze anos de idade. Mas quis o destino, ou Deus, que nascesse com uma doença genética incurável. Até os dias atuais nenhum médico conseguiu decifrar ao menos a origem da doença, muito menos encontrar-lhe uma cura ou uma forma de neutralizá-la. Ainda não foi possivel isso.
Ele não foi o único. Mas foi o primeiro que conheci. Infelizmente, todos na minha familia e do sexo masculino. Isso tem colocado todos em alerta. Muitos de nós têm medo de um dia ter um filho assim.
Como disse, o Milton foi o primeiro, mas não o último. Depois dele vieram mais quatro: Paulo e Bazildo, já falecidos; também agora o Alexandre e o Leonardo. É triste, mas é assim que anda a vida, num ciclo sem fim. Ter alguém especial na família não é nenhum pecado. Não vou dizer que é uma benção, pois ninguém quereria, com certeza, estar nesta situação. Resta apenas aceitar e tentar entender.
Essa doença, que eu não sei o nome, pois nenhum médico ainda a diagnosticou com precisão, teve os mesmos sintomas em todos eles. Nasce normal. Demora muito tempo para dar os primeiros passos. O Alexandre, por exemplo, já estava com quase dois anos quando começou a caminhar. Geralmente tem as pernas tortas, o que impede caminhar normalmente, tem a barriga pra frente. Na maioria dos casos, todos até agora, com excessão do Paulo, afeta também o conhecimento deles, deixando-os como se fossem eternas crianças. Mas o pior de tudo não é isso. É que a doença com o passar dos anos vai se alastrando. Por exemplo, começa a caminhar tarde, mas depois de caminhar a pessoa vai perdendo mobilidade das pernas pouco a pouco, até deixar de caminhar de vez, por volta dos nove ou dez anos de vida.
A partir daí começa uma nova fase onde a pessoa só anda de cadeira de rodas, precisando mais do nunca da ajuda dos outros para se locomover. Pior ainda, os órgãos vão parando, até chegar naqueles considerados vitais. Aí não tem mais volta, infelizmente.
Como eu disse antes, não me lembro quase nada da morte do Milton. Só me lembro disto, de tê-lo visto em uma cadeira de rodas e depois, dentro de um caixão. Milton morreu com quatorze anos. A adolescência é crucial para essa doença. Ainda há muitas crianças para virem ao mundo através de minha família e a gente espera, sinceramente, que essa doença tenha ficado na geração passada. 

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