Com los Recuerdos al hombro

FIQUE RICO SEM SAIR DE CASA

24 de mar. de 2011

A Velha Olaria

Muito pouca coisa me lembro da Olaria velha que ficava lá nos fundos do bairro Indianopolis. No entanto, três coisas ficaram na minha mente para sempre: os oçudes que existiam um pouco mais adiante; a casa de telhado de palha, que servia de aconchego - o Cid dizia que ele construíra a casa, não sei se procede - e o acidente do Luis com as esteiras da Olaria onde se machucou uma das mãos.
A Olaria pertencia ao Valdeci Silva, um famoso cantor de músicas religiosas de Jaguarão. Anos mais tarde ele seria canditado a vereador, fazendo um pouco mais de setenta votos. Acho que ele se canditatou na época errada.
O Valdeci fez parte dos tempos áureos da minha infância. Do tempo em que eu andava solto. Ele era muito amigo do Cid, por isso  nos visitava frequentemente. O Valdeci fez sucesso, quando se gravava músicas em fita cassete, pois em CD naquela época, só para cantores de alta estirpe, coisa que ele não era. Era famoso apenas em Jaguarão e no meio das Igrejas Evangélicas. Não sei por onde ele anda agora, mas dizem que mora em Pelotas. Da última vez que falei com ele foi na eleição municipal de 2004. Depois nunca  mais o vi. Soube tempos depois que ele e o Cid tinham rompido, não sei quais as razões, mas acho que envolve politica.
Então a velha olaria pertencia ao Valdeci que dividia seu tempo trabalhando nela e cantando para as "multidões". Eu me lembro que a música mais fomosa dele era "Quantas lágrimas", que tinha um trecho mais ou menos assim: quantas lágrimas que rolam em meu rosto, é dor de um desgosto, é pecado que a traz, até parece que nada tem valor, mas eu olho para cruz, clamo sangue de Jesus, tudo se torna feliz.
Fora a religiosidade dele, de resto era um homem normal. Era dono de uma olaria. Para ser sincero não sei se era dele propriamente dito ou se ele locava aquilo, mas ele mandava.
Os principais empregados dele eram o Cid e o Luis, que trabalhavam nela todos os dias e faziam a máquina funcionar.
Fora o trabalho, a olaria servia de ponto de encontro da gurizada. Na famosa casa feita com barro e tijolo com telhado de palha. Ali eram feitas as reuniões. Ali também foi o fim do famoso Wikiman e do Homem Águia. Afora isso, nós brincávamos muito naquela olaria, de tudo quanto é coisa.
Dentro da pátio da olaria havia um açude, onde a gurizada tomava banho. Mas tempos antes havia mais dois açudes mais atrás da olaria. Eram as famosas Pirulitas e as Balas. Não me perguntem porque têm esses nomes que eu não sei. Acho que o primeiro foi o Pirulitas, depois surgiu o outro e, não tendo outro nome puseram Balas. Coisas de guri.
Então a gurizada tomava banho nesses açudes. Mas credo, se fosse hoje em dia eu não colocaria nem meus pés dentro daquela água imunda cheia de aguapés. Já naquela época eu tinha medo de entrar na água. Só que a Rosa - irmã da minha mãe - não teve medo. Certa vez o Luis perdeu um chinelo lá e a Marta  - irmã da Rosa - que morava com a minha vó foi buscá-lo e não encontravam do tal chinelo. A Marta queria ver o chinelo, mas não entrou na água, mandou a pobre da Rosa fazê-lo. Até eu me assustei.
Mas voltando a história da olaria, o Luis uma vez se acidentou trabalhando. Não sei bem o que ele fez. Segundo o Valdeci dissera para a Vó, ele tinha colocado a mão numa correia e se machucado um pouco. Ficou uns quantos dias com as mãos enfaixadas.
Vale lembrar que nem ele, nem o Cid tinham carteiras de trabalho assinadas, não possuiam, portanto, nenhum direito previdenciário, ou seja, ficou por isso mesmo. Mas isso já não importa. O que importava mesmo naquela época era a diversão.
Tempos depois a olaria fechou e nunca mais se fez tijolo lá. O Valdeci como eu já disse deu um sumiço de Jaguarão. Claro, não antes de fundar a sua própria igreja. Como não deu muito certo, tomou chá de sumiço e a velha olaria já não existe mais.