Com los Recuerdos al hombro

FIQUE RICO SEM SAIR DE CASA

30 de abr. de 2010

A Primeira Televisão

Até sairmos do Cerro, os únicos meios de entretenimento que tínhamos era um rádio, onde a mãe escutava a Rádio Cultura e um toca-disco, onde rolavam sempre os mesmos discos como Carlos Alexandre, Amado Batista, Teixeirinha, Gildo de Freitas, Sidney Lima, entre outros sucessos da época. Não tínhamos TV em casa. Eu nem fazia ideia do que vinha ser uma televisão.
Naquela época, fins dos anos oitenta e inicio dos noventa, ter uma televisão em casa era luxo para poucos. Ainda era difícil ter uma televisão. Acho até que era difícil de se ter qualquer bem considerado durável, pois estes custavam muito dinheiro e conseguir comprar parcelado era relativamente impossível. Era a época da superinflação, a desvalorização ocorria de um dia para outro. Não tinha dinheiro que desse. Lembro-me até que diziam que tinha que levar um quilo de dinheiro para comprar um quilo de arroz, tamanha a desvalorização. Chegava a ser cômico. Todos os dias os preços mudavam na prateleira do armazém - ah, naquela época se comprava em armazém, não em grandes supermercados de hoje - a função de demarcador de preço nunca fora tão importante.
Para piorar ainda mais a situação teve os planos mirabolantes de Fernando Collor, tomando conta das cardenetas de poupança da população. Quem tinha dinheiro no banco, se corrigia, mas não podia gastar, quem tivesse debaixo do colchão, até podia gastar, mas de um dia para outro perdia boa parte de seu poder de compra. Era uma época de loucuras. Até hoje não fcou bem esclarecido o "impeachment" de Collor. Acredito que seja por isso e não por causa daquela Elba. Mexer no dinheiro da classe média é mexer com enxame de abelhas. Bom isso já é outro assunto.
O que eu quero falar agora é sobre a televisão. Quando nos mudamos para a casa nova, uma novidade havia surgido: a tal da televisão. Antes disso eu deconhecia televisão, não entendia o que realmente ela fazia. Minha mãe sempre olhava as novelas dela, mas na casa dos outros vizinhos. Nossa própria TV nunca tivéramos.
Mas recordo que uma vez cheguei em casa e deparei-me com esse objeto, que mais parecia uma caixa rústica. Era uma televisão, das bem antiga, talvez da década de setenta. Era feita de material compensado, devia ter uns oitenta centímetros de largura por uns cinquenta de altura e uns trinta de fundos, deitada parecia um caixão. Era preto e branco. Era o que se chamavam de TV a válvula, às vezes tinha que esperar aquecer para funcionar. Ah, tinha o "seledonho", a chave de trocar canal e uma antena interna de duas varetas de alumínio. Às vezes a imagem era tão ruim que minha mãe colocava um pedaço de Bombril para ver se melhorava, ah, molharava sempre.
Aquilo para nós era uma maravilha, parecia que o mundo tinha entrado em nossa casa. Todos os parentes da minha mãe iam lá em casa para olhar a novela. Hoje só me resta a nostalgia daquela boa época. Lembro-me como fiquei maravilhado ao ver pela primeira vez aquelas imagens se movendo dentro do aparelho. Certa vez pensei em até entrar para dentro e participar junto com os personagens. Lembro-me do primeiro programa, o Chaves (El Chavo del Ocho), que maravilha, esburralhava os olhos e não pensava em mais nada e ali ficava, em devaneios com aqueles personagens todos.
Entretanto, até hoje quando eu me lembro  dessa época, vem-me à memória a TV Manchete, inexistente nos dias atuais. O Chaves até poderia ser meu programa preferido naquela, mas na programação geral nenhuma emissora ganhava da extinta Manchete. Lembro-me que eu me levantava bem cedo e não perdia nenhum episódio do Jiraya, do Jaspion (aquele homem de ferro com seu robô gigante), os Changeman (acho que foram os antecessores dos Power Rangers), ainda tinha os Flashman e os ThunderCats. Isso era o máximo. Não sei se é porque eu era criança ou porque os pragramas voltados ao público infantil naquela época eram realmente melhores que os atuais. Não sei. Só sei que o fascinio que eu tinha pela televisão nesse longíquo tempo não tenho nos dias atuais, mesmo tendo uma gana de canais de boa qualidade. Hoje não consigo mais perder tempo na frente da televisão. E olha, se for comparar com aquela época, a evolução é estrondosa. Hoje faço tudo sentado, usando controle remoto, com mais de duas centenas de canais a disposição em vários idiomas e em alta definição; naquela época era uma televisão do tipo acima citada, preto e branco e cada vez que tinha que mudar de canal fazia aquele barulhinho particular tipo "troc troc" do famoso "seledonho". Quanta diferença e ao mesmo tempo quanta saudade.

28 de abr. de 2010

O Luiz e os outros irmãos

Quando iniciava década de 1990, nós éramos cinco irmãos, todos do sexo masculino, Luiz, Paulo, Leandro, Renato e eu. Minha mãe estava grávida de sua primeira menina, que nasceria em abril daquele ano, a Pérola. Mas morávamos em casa apenas os quatro mais novos, o Luiz morava com a vó Maria. Eu me lembro que a vó Maria morava próximo da nossa casa, na rua Quinze, um pouco mais acima.
Mas o que eu quero falar agora é que o Luiz era uma pessoa a parte em nossa convivência. Nós nunca convivemos da maneira como os outros irmãos vivem, juntos. Ele sempre morou fora de casa.
Não sei se era algum tipo de preconceito, talvez impregnado sem querer na cabeça de meu pai, mas o certo é que ele viveu assim, alheio a nossa vida cotidiana.
Digo preconceito porque o Luiz é o único filho da minha mãe que não é filho também de meu pai. Quando meus pais se casaram, ele já era nascido. Fruto do envolvimento anterior de minha mãe com o Silvio, o Silvio Santos, não o da TV, mas um de Jaguarão. Igualmente famoso. O Silvio era o garanhão da sua época, "pegava todas", principalmente quando jovem, quando ainda tinha alguns trocados, podia esbanjar. Mas morreu na miséria, sem ter sequer onde morar.
Voltando ao Luiz, em virtude disto, eu acho que ele era muito maltrado pelo meu pai, por não ser seu filho. Em uma dessas feitas, contava minha mãe, que ele deu de relho no Luiz; diz até que teve que levá-lo ao hospital, tamanha fora a surra. A partir daí a vó Maria levou-o para que morasse com ela. Desde então ele nunca mais voltou para casa, tendo saído da casa dessa vó e ido morar na casa da outra, a Ieda, no início dos anos 90, quando estava chegando a adolescência e queria um pouco de liberdade. Conseguiu. Tanto que se envolveu com pessoas que não deveria e fez coisas piores ainda. Mas isso faz parte do passado. Ele morou com ela até alcançar a maioridade, quando resolveu morar sozinho. Hoje talvez ele nem se lembre muito sobre isso, já que vive uma vida normal em sua casinha em cima do Cerro. Às vezes é melhor deixar o passado em seu devido lugar: esquecido no passado. É isso que ele faz; e faz muito bem. Só eu fico lembrando o passado, remoendo tristezas, problemas e dores como se isso estivesse sempre presente na minha vida. Ele está certo, vamos deixar as angústias para trás.


27 de abr. de 2010

A mudança

Depois daquela tragédia que foi a morte do Aldirio, ficamos pouco tempo residindo no Cerro, logo nos mudamos dali. Minha mãe já dera a luz ao meu irmão Renato, que ficou marcado com aquele episódio trágico.
Mudamos para o que à primeira vista se chamou de Mutirão. Eram casas de alvenaria construidas por funcionários da Prefeitura, em forma de mutirão, daí o nome. Meu pai naquela época prestava serviços à Prefeitura, por isso fora agraciado com uma daquelas.
De início a casa já surpreendia. Só a sala e cozinha, juntas, era maior que toda a casa em que nós morávamos no Cerro. Lembro-me que casa possuía sala, cozinha, um quarto e um banheiro, todos amplíssimos. Logo em seguida foi construído um quarto menor, onde dormiámos Paulinho e eu. Nessa época já éramos cinco irmãos, Luiz, Paulo, eu, Leandro e Renato. O Luiz morava com a vó Maria. O Leandro que na época tinha uns dois anos e o Renato que acbara de nascer dormiam no quarto com a mãe.
Era uma alegria única. Não tão grande para minha mãe que tinha deixado o convívio de todos seus familiares no Cerro, mas nossa, pela casa nova e do  velho que parecia criança com sua bicicleta nova. 
Nós indo embora do Cerro, tornamos-nos os primeiros da familia da minha vó Ieda (mãe da minha mãe) a abandonar o lugar. Mas forámos para um lugar bem melhor, é verdade. Bom, minha mãe nunca se conformou com isso, pois até hoje ela reclama. São coisas da vida.
Mas voltando àquela época, foi uma mudança incrível, o pouquinho de coisas que tínhamos coube em três viagens. Mas viagens de charrete. Mas eram tão poucas as coisas mesmo, que numa dessas viagens, viemos todos em cima da carroça do Seu Seledonho. Sim, esse era o apelido do velho cherreteiro, nunca soube o nome daquele cara. Dizem que era João, mas não sei com certeza. Para ser sincero nem sei se ele vive ainda, porque naquela época ele já era muito velho.
As coisas eram mais ou menos assim: um armário de madeira (naquela época móveis eram feitos de madeira de pinho, na sua maioria), um fogão a gás, um fogão a lenha, uma mesa grande de madeira, feita pelo meu pai, dois bancos grandes, também feitos por ele, duas camas com seus respectivos colchões, um guarda-roupa, um toca-discos e alguma quinquilharia a mais que eu não me lembro. Demo-nos conta que isso não era nada para nova casa, ficando vários espaços vazios.  
Porém, para a alegria da minha mãe, logo eles compraram um quarto novo. Era surpreendente, cama, roupeiro, cômoda com espelho, dois criados mudos e colchão novo. A mãe era só alegria. Até se esqueceu da gente dela que ficou no Cerro. Eu me lembro até da cor dos móveis novos: era marfim.
Apesar da tristeza da minha mãe por ter ficado longe da gente dela, essa casa ficava aproxidamente dois quilômetros do Cerro, talvez nem isso, pois ficava ali na tangente do bairro Kennedy, entre as ruas Quinze de Novembro e Vinte e Sete de Janeiro.
Como disse convenciou-se chamar de Mutirão, conforme iam surgindo, I, II, III e IV. Entretanto o nome dos três primeiros, que ficam no bairro Kennedy é Conjunto Habitacional Fernando Corrêa Ribas. Uma homenagem nada mais justa a um maiores nomes da politica jaguarense, que deu início a construção desses tipos de habitação, que por longos anos foram os únicos empreendimentos do gênero na Cidade Heróica.
Infelizmente, nós só ficamos morando nesse local até o ano de 94, quando meu pai cometeu, a meu ver, o maior erro da sua vida; mas isso é assunto para mais tarde.

22 de abr. de 2010

Cerro da Pólvora

Vista da cidade de Jaguarão do Cerro da Polvora, mirante natural da cidade
Foto/Divulgação de Internet

Pouco me lembro do Cerro de antigamente. Quase nada para ser sincero. É a parte mais elevada da área urbana. De lá é possivel ver boa parte do centro da cidade, do rio e da cidade uruguaia de Rio Branco.
Mas da época em que eu vi lá, de 84 a 89, até os dias atuais muitas coisas mudaram. O Cerro é o que chamamos de crescimento desorganizado de uma cidade. Não que Jaguarão seja uma metrópole, nada disto. Mas com o exôdo rural, que se sucedeu em quase todas as cidades brasileiras, muitas pessoas que vinham tentar a vida nas cidades, deparavam-se com a falta de infra-estruturas que as mesmas ofereciam. Com a Cidade Heróica não foi diferente. As pessoas vinham e se amontovam em cima do Cerro. 
Muito se discute, hoje mais pacificado, de quem são aquelas terras onde vivem as pessoas, se da Prefeitura ou do Exército. Algum tempo atrás a Prefeitura estava cadastrando os moradores de lá para regularizar os lotes; não sei se isso vingou.
Não sei muito certo o que originou esse nome. Se foi o fato de o Exercito ter se instalado lá por muito tempo (Enfermaria Militar) ou porque se extraíam muitas pedras de lá, dinamitando inclusive, não sei. Cerro porque é alto, Pólvora, por um desses motivos.
O certo é que até hoje me dá uma nostalgia quando vou ao Cerro, volto alguns anos atrás quando eu me cagava de medo de cair naquelas crateras que há por lá, crateras onde até hoje é possível ver um morador solitário ainda extraindo algumas pedinhas para tentar sobreviver. Há duas grandes canteiras (crateras) no Cerro e as casas das pessoas ficam mais ou menos em volta, formando um grande círculo. As casas por lá são mal distribuídas, em uma desorganização sem fim. Alguns anos atrás a prefeitura expulsou alguns moradores que tentavam construir casa bem a berada das crateras. O motivo fora que seria perigoso. Mas ainda hoje existem muitas casas praticamente do lado, questão de alguns metros. Ou seja, o perigo continua. Há locais onde a profundidade pode ser de três metros.
Infelizmente, nenhum governante até agora conseguiu fazer alguma coisa que melhorasse de verdade a vida de quem por lá mora. Nada. Só promessas em ano eleitoral e depois esquecem que lá moram boa parte de nossos co-cidadãos jaguarenses.
Poderiam transformar o Cerro em um ponto turístico a mais da cidade. Um motivo por si já bastaria. É um mirante natural de nossa cidade. É possivel de lá ver toda a área central da cidade, ainda deleitar-se em observar o Rio Jaguarão e boa parte da cidade vizinha de Rio Branco.
Isso sem contar as Ruinas da Enfermaria (que querem transformar em museu), a imagem do Cristo. Ou seja, o que falta mesmo é força de vontade.
Espero que se deem conta disso e revitalizem aquela área tão importante de nossa cidade para os cerrenses tenham uma vida mais digna e possam sim se orgulhar de ter vivido lá.

20 de abr. de 2010

O assassinato

Poucas coisas marcaram mais a minha vida do que isto que descrever agora. Muitos acreditam que eu minto, pois não poderia saber de tantos detalhes assim, tanto tempo depois, principalmente tendo tenra idade.
No entanto, o que vou contar a partir de agora não é mentira; não é fruto da minha imaginação e as coisas realmente aconteceram, com todos esses detalhes. Nada acrescentado. Foi um dos últimos acontecimentos, e mais marcante também, da minha vida inicial no Cerro da Pólvora.
Era início do ano de 1989, verão, minha mãe estava grávida de meu irmão Renato. Vivia conosco naquela época, o Aldirio (tio de meu pai, irmão da minha vó Maria). Aldirio já era um homem de idade. Lembro-me pouco de seu rosto, lembro-me, porém, que ele era calvo. Nunca esqueço de sua WV Kombi azul, que eu nunca soube o fim que ela teve. Lembro-me também que todos os dias que ele chegava, presenteava-nos com pacotes de bala de goma e pipoca doce, era uma delicia. Quando ele chegava com isso era uma festa só. Parecia ser um bom homem. Apenas parecia. Era um homem mau. Já tinha cometido vários crimes, inclusive um assassinato.
Como disse, minha mãe estava grávida, prestes a dar a luz. Morávamos, como já foi dito, no mesmo lugar, no Cerro. Não me lembro exatamente como era a casa, mas me lembro que eram dois quartos, sala/cozinha juntos e o banheiro era na rua. Isso mesmo, o banheiro ficava na parte de fora da casa.
Lembro-me que era noite. Minha nãe fora na rua colocar a erva do mate fora. O Aldirio foi logo em seguida. Todos imaginaram que ele fosse ao banheiro. Mas não. Em seguida minha mãe volta da rua assustada. Logo após Aldirio vem com uma faca em mãos proferindo um monte de besteiras, coisas do tipo "vou tirar essa criança de ti" e muitas outras coisas mais que não me lembro. E foi em direção à minha mãe, apontando a faca grande de cabo preto. Foi quando meu pai pegou uma pedra grande que estava próxima ao fogão a lenha e jogou-lhe na cabeça. Ele caiu no chão, mas ainda estava vivo. Então meu pai pegou o machado e desferiu-lhe muitas machadadas no peito. Muitas, não sei quantas. Fiquei apavorado; quando vi aquele sangue todo jorrando pelo chão, nem sabia onde me esconder. Juro que fiquei assustado. Fora a primeira vez que vi alguém morrer, ainda mais dessa maneira.
Depois disso fomos, minha mãe, meus irmãos e eu para casa da minha vó, que ficava próxima. De lá vi a comioneta dos bombeiros levar o corpo. Por incrivel que pareça chegou ao hospital ainda vivo. Foi mandado direto para Pelotas, mas não resistiu, morreu. Nunca mais se soube dele. Dizem até que fora enterrado como indigente. Com meu pai nada aconteceu. Abriram inquérito, mas nunca se chegou a uma conclusão. Lá pelos anos dois mil e pouco, ele fora chamado na policia de novo. Mas encerraram o caso ali.
Chato foi chegar em casa depois daquele sucedido. Ficou algo ruim impregnado no ar. Era triste. Menos mal que em seguida fomos embora de lá e meu pai desmanchou a casa.
Atualmente as pessoas me perguntam o que particularmente eu penso sobre esse episódio. Uma coisa quero deixar bem claro, todo o ódio que senti pelo pai todos esses anos, nada tem a ver com esse episódio, tem a ver em outros motivos; eu no lugar dele teria feito a mesma coisa.

19 de abr. de 2010

O dia em que a Rosa apanhou

Muitas pessoas me perguntam se a minha familia é composta de só de loucos. Eu concordo. Só tem loucos nessa familia - se é que dá pra chamar de familia - só loucos. Não como aquele cântico da torcida do Corinthians, que diz "que aqui tem um bando de louco", é muito pior. Existem vários tipos de loucura. Louco de feio, de bonito, de rico, de pobre, de ruim, enfim, vários. Tenho quase certeza que eu me encaixo em várias delas.
Mas eu tenho uma tia, a Rosa, mas ela não é louca como muitos dizem, ao contrário, ela é doente. Tem um retardo mental. Não tem noção do que faz. Hoje ela é mulher adulta, na faixa dos quarenta anos. Devido a esse retardo, muitas pessoas abusavam dela quando mais nova. Ela teve três filhos, digo teve, pois dois já faleceram, o Bazildo, inclusive, comentarei mais tarde.
O Alceni, meu pai, esse sim era louco. A Rosa, em virtude dessa deficiência, fazia várias coisas, que encomodavam todo mundo. Gritava, chingava, brigava, chorava; sempre que lhe faltava o remédio, o famoso Gardenal, acontecia isso. Era sempre assim, era só faltar o remédio, que lhe dava essas "loucuras". Ah, e como fumava, desde muito cedo.
Um dia daqueles, e lá se vão mais de vinte anos, pela primeira vez eu ouvi os griteiros da Rosa. Ainda morávamos no Cerro (no mesmo chalé), bem perto da minha casa, morava minha vó, pois era quem cuidava dela. Assim, cerca de cinquenta metros de distância. E a ela gritava, chorava, esbaldava-se em seus devaneios.
Fui para o pátio para ver mais de perto a situação e para matar minha curiosidade, quando de repente vi meu pai vindo com um relho na mão. Até me assustei, pois pensei que fosse comigo. Não era. Era com a pobre da Rosa. Nunca tinha imaginado aquela situação. Ao invés de parar, ela gritava e chorava ainda mais. E ele batia cada vez mais. Fora a primeira atrocidade que vi ou ouvi meu pai fazer. Ao longo desses anos vi muitas, e a cada uma meu ódio por ele só aumentava. Infelizmente ele nunca teve o meu respeito.

16 de abr. de 2010

A morte do tio Milton

Anteriormente escrevi que algumas coisas ficam na nossa lembraça para sempre. Algumas são tão fortes que parecem que aconteceram recentemente. Porém, à memória não é possivel lembrar-se de tudo perfeitamente. O tempo apaga algumas coisas que o nosso cérebro considerada periférico para poder guardar outras mais importantes.
O que eu quero dizer é que me lembro vagamente da morte do tio Milton. Muito pouco sei sobre isso. Sei perfeitamente o que ocasionou a sua morte. E tem trazido transtornos à minha familia até os dias atuais. Uns dizem até, exageradamente é claro, que isso é um castigo de Deus. Não sei. Não creio muito nessas profecias malditas.
O Milton era o único filho macho da minha vó materna. Era o mais jovem também. Ele faleceu no fim dos anos oitenta. Tinha só quatorze anos de idade. Mas quis o destino, ou Deus, que nascesse com uma doença genética incurável. Até os dias atuais nenhum médico conseguiu decifrar ao menos a origem da doença, muito menos encontrar-lhe uma cura ou uma forma de neutralizá-la. Ainda não foi possivel isso.
Ele não foi o único. Mas foi o primeiro que conheci. Infelizmente, todos na minha familia e do sexo masculino. Isso tem colocado todos em alerta. Muitos de nós têm medo de um dia ter um filho assim.
Como disse, o Milton foi o primeiro, mas não o último. Depois dele vieram mais quatro: Paulo e Bazildo, já falecidos; também agora o Alexandre e o Leonardo. É triste, mas é assim que anda a vida, num ciclo sem fim. Ter alguém especial na família não é nenhum pecado. Não vou dizer que é uma benção, pois ninguém quereria, com certeza, estar nesta situação. Resta apenas aceitar e tentar entender.
Essa doença, que eu não sei o nome, pois nenhum médico ainda a diagnosticou com precisão, teve os mesmos sintomas em todos eles. Nasce normal. Demora muito tempo para dar os primeiros passos. O Alexandre, por exemplo, já estava com quase dois anos quando começou a caminhar. Geralmente tem as pernas tortas, o que impede caminhar normalmente, tem a barriga pra frente. Na maioria dos casos, todos até agora, com excessão do Paulo, afeta também o conhecimento deles, deixando-os como se fossem eternas crianças. Mas o pior de tudo não é isso. É que a doença com o passar dos anos vai se alastrando. Por exemplo, começa a caminhar tarde, mas depois de caminhar a pessoa vai perdendo mobilidade das pernas pouco a pouco, até deixar de caminhar de vez, por volta dos nove ou dez anos de vida.
A partir daí começa uma nova fase onde a pessoa só anda de cadeira de rodas, precisando mais do nunca da ajuda dos outros para se locomover. Pior ainda, os órgãos vão parando, até chegar naqueles considerados vitais. Aí não tem mais volta, infelizmente.
Como eu disse antes, não me lembro quase nada da morte do Milton. Só me lembro disto, de tê-lo visto em uma cadeira de rodas e depois, dentro de um caixão. Milton morreu com quatorze anos. A adolescência é crucial para essa doença. Ainda há muitas crianças para virem ao mundo através de minha família e a gente espera, sinceramente, que essa doença tenha ficado na geração passada. 

15 de abr. de 2010

Café numa garrafa de Pepsi Cola

Algumas coisas ficam na nossa lembrnaça por muito tempo.
Devia ter uns três ou quatro anos no máximo. Morávamos no Cerro da Pólvora, em um chalé construído pelo meu pai. Lembro-me até da cor: era branco.
É sobre ele mesmo que quero comentar, sobre meu pai que, apesar de todos os defeitos (falarei disto adiante), tinha um semblante de homem bom e trabalhador.
Meu pai era pedreiro, um dos melhores que eu conheci, trabalhava muito em construções, tanto na área urbana, quanto na rural. Nunca lhe faltava serviço, sempre iam em busca dele e não ele atrás do serviço. Incrível como as pessoas gostavam do trabalho dele.
Mas uma imagem que não sai da minha cabeça é que todos os dias de manhã cedo, mas cedo mesmo, nem sei como eu era tão corajoso pra me levantar, ele fazia café e colocava numa garrafa média de Pepsi Cola. Fazia café pra ele e pra mim. Depois ia trabalhar e eu me deitava de novo. Era sempre assim. Minha mãe e meus irmãos, que na época eram três (Luis, Paulo e Leandro), continuavam a sua trajetória infante de seguir dormindo, sem perceberem nada.
Lá vinha o café na garrafinha de Pepsi. Muitos me questionam porque Pepsi e não Coca. Naquela época esses dois refris já faziam muito sucesso. Mais do que agora eu acho. A Pepsi, principalmente, hoje ela é bem menos do que antes. Nessa  época os refrigerantes tinham um gosto diferente. Era uma delicia ir no buteco, tinha um bem perto de casa e meu pai sempre nos levava para tomar um refrigerante de garrafinha. Mas a minha preferida ainda era a Mirinda, que não existe mais.
Por isso era uma garrafa de Pepsi, porque se tomava muito mais Pepsi naquela época do que nos dias atuais, onde a Coca é líder absoluta, fora os outros refrigerantes menos afamados que tomaram conta do mercado.
Ele cumpria esse ritual todos os dias. Parece hoje. Meu pai vestindo um blusão marrom, com gola tipo V, calça social e chinelo, sempre usava chinelo, podia estar o frio que estivesse, e, claro, a garrafinha de Pepsi Cola, cheia de café com um pedaço de saco amarrado na ponta para tomar na hora do descanço. E claro não podia faltar o pedaço de pão feito casa da minha mãe, para acompanhar o "café cola".

14 de abr. de 2010

O berço de ferro

A história que vou contar agora parece mais uma lenda do que verdade. É dificil eu sei, até eu não creio muito.
Toda vez que me lembro deste episodio, que minha mãe contava quando eu era mais novo, pois acho que agora ela esqueceu, vem-me na cabeça a letra de uma musica dos meus conterrâneos da querida Cidade Heróica, Martin Cesar, Paulo Timm e Regis Bardini, "Temporal Santa Rosa". Um trecho da música era assim "os antigos professavam, fim de agosto Santa Rosa, vem troteando seus trovões, não se cruzam os alambrados porque neles bincam os raios, partindo ao meio os moerões". A musica em si é linda. Conta uma lenda que os antigos acreditavam muito. Era só chegar o mês de agosto que os velhos já profetizavam: agosto, mês do desgosto, vem aí o Santa Rosa.
Com o passar dos anos isso foi caindo no esquecimento; hoje ninguem mais fala em Santa Rosa. E até hoje não entendo por qual razão tem esse nome. Se era tão ruim por que era santa? São coisas dos antigos.
Contava minha mãe que num desses temporais, eu fui vítima. Devia ter meses de vida. O certo é que eu não me lembro de nada. Morávamos no Cerro da Irmandade. Eu dormia num berço de ferro. Os antigos acreditavam muito nisso: em dia de temporal, era obrigatório os espelhos cobridos ou virados, os ferros escondidos, que segundo eles isso atraía o temporal; alem disso ainda se fazia uma cruz com erva e sal e lógico a cruz com machado para afugentar o temporal. Sinceramente nunca entendi muito desses sacramentos.
Resumindo a história, diz ela que um raio caiu bem no berço onde eu dormia. Ela sempre diz que me safei por pouco. Até pode ser. O certo que isso é meio dificil de se acreditar. Como seria possível, ter-me salvo se raio caiu bem exatamente onde eu estava dormindo? Como um colchonete de berço seria forte suficiente para me salvar, se um raio, como se sabe, possui uma voltagem elétrica muito forte? Também não sei. Mas uma coisa é certa, algo aconteceu naquele dia de temporal Santa Rosa, algo que ainda não entendi e que minha não soube explicar.

12 de abr. de 2010

A lenda do meu nome

Muitas pessoas ficam me perguntando qual a razão de eu me chamar Jesus. Dão vários motivos. Uns ficam perguntando se é porque eu teria nascido no dia 25. Não é por isso, eu nasci no dia 25, mas foi no mês de setembro, três meses antes do 25 de Natal. Nada a ver com essa data festiva, portanto. Outros dizem se pai se chamava José, era carpinteiro ou algo assim.
O certo é que não existe nenhuma ligação entre meu nome e o Natal, ponto. Mas em virtude deste nome já recebi vários apelidos. Muitos me dizem até que eu tenho nome errado. Deveria me chamar Lúcifer, veja só, coitado de mim. Já me chamaram de tantos apelidos que até esqueci a maioria. Mas os mais comuns eram, além de Lúcifer, "Filho Homem", "Homem Santo", "Jesus Paraguaio", "Genérico" (esse foi legal), mas nenhum pegou tanto como "Homem de Deus". Muita gente me chama assim, principalmente nos tempos de faculdade e no meu trabalho.
É, ter um nome desses não é fácil. Mas voltando a origem do meu nome, conta a minha mãe que tem um motivo, meio inusitado é claro. Não sei por que ela escolheu assim. Eu tenho um primo, o Cris, que é dois meses mais velho do que eu. Conta-se que a mãe dele queria colocar-lhe o nome de Jesus. Não o fez e não se sabe por qual razão. O certo é que minha mãe achou lindo ou sei lá o que e colocou em mim esse nome. Está aí a explicação. Simples. Nada a ver com o Natal. Não sei por que todos os nomes bíblicos devem ter um motivo bíblico. Mas é assim. Um evangélico, sempre tem um Moisés na família, um mórmon sempre tem um Nefi e um católico sempre tem um Tomás. E os nomes sem relação com religião de onde vêm, não sei.
Meu nome é Jesus e minha mãe nunca pensou ter dado a luz ao um santo e nem quero sê-lo. Sou natural, normal, igual o todos os seres andantes na face desta Terra. Só isso. Por terem me colocado vários apelidos, pensei sinceramente em mudar de nome. Qualquer outro, que me trouxesse menos chacota. Agora, entretanto, estou convencido. Não vou mudar meu nome. Quem quiser me aceite assim. Seguirei minha vida com ou sem apelidos.

9 de abr. de 2010

Minha pequena historia

A partir desta data começarei a contar minha pequena historia (veridica) a todos que se interessarem por ela. Escreverei textos sucintos sem muita demagogia. Contarei aquilo em que eu me lembrar ou me foi passado por meus pais a partir de meu nascimento em 25 de setembro de 1984. Peço que tenham paciência, pois escreverei devagar e sem nenhuma pressa. E olha que são muitas historias, umas felizes e alegres e outras nem tanto. A partir de hoje conviverão com isso. Espero que achem legal. Até mais ver.