Com los Recuerdos al hombro

FIQUE RICO SEM SAIR DE CASA

30 de jun. de 2010

O Inicio na Vila

Os primórdios dias em que vivi na Vila Kennedy já me ditavam o que viria por dali em diante. Haveria uma grande mudança na minha vida. Eu ficaria mais rebelde, mais solto e bem atirado, na boa expressão da palavra.
Não conhecia praticamente ninguém naquela zona, além dos meus primos. Fui conhecendo aos poucos. Alguns eu me dou bem até hoje, como é o caso do Caco, do Alcindo, do Valério e do Renato Bolacha. Grandes amigos da minha juventude futebolística no nostálgico campo Topetão. Topetão era um campo de futebol de cinco perto da nossa casa. Tinha esse nome, que fora dado pelo ilustre Belo, irmão do Dairi, justamente pela quantidade de morros que possuía. Não era muito difícil o camarada sair lesionado do campo, geralmente com um dedo destroncado.
O Topetão fora palco de grandes jogos e muitas brigas também. Existiam muitos times da gurizada da volta e por isso se fazia muitos campeonatos. A maioria organizados pelo Belo e pelo Cid. Grandes clássicos foram organizados neste campo, clássicos também jogados nas quadrinhas de cimento que ficavam nas praças da vila, na de cima, perto do posto de saúde e na de baixo, junto ao Castelo Branco. Existiam muitos times, mas os principais eram: GEU (Grêmio Esportivo União), que pertencia ao Cid; o GEK (Grêmio Esportivo Kennedy), que pertencia ao Luís; o Cerro da Pólvora que pertencia ao Ércio; o Heineken (homenagem a cerveja), que pertencia ao Tiaguinho e a turma do Minhoca, além de outros times mais distantes como o Prado e o da Vila Vencato. Grandes campeonatos eram organizados, valendo qualquer coisa. Sempre acabava em briga. Eu me lembro que o maior clássico ficava por conta de GEU e GEK. Talvez por pertencer a mesma familia ou por serem muito próximos ou até por usarem o mesmo campo, o Topetão. Recordo que eu jogava no GEK. Cada jogador tinha o passe fixado num valor imaginário. Se um time quisesse aquele jogador, tinha que pagar o preço. Os dois times, GEU e GEK, foram fundados praticamente no mesmo dia e do mesmo jeito. Numa pescaria no "Posto de Bomba", o Cid disse que queria fundar um time de futebol. Daí nasceu o GEU em 15 de janeiro de 1996. No outro dia o Luís fundou o GEK. Por convenção, os irmãos ficaram no time do fundador, por isso eu fiquei no Kennedy e, Pio, Rafa e Nero ficaram no União.
Tirando essa parte futebolística, minha vida nos primórdios tempos em que vivi ali, que foi de 94 até 98, era uma loucura. Eu andava muito solto, fazia o que queria, saía de casa a qualquer hora e voltava a qualquer hora. Foi a época em que me rebelei conra tudo e contra todos. Esse período foi marcado prinipalmente pelas brigas com o Alceni, pelas fugidas de casa e por ter me envolvido com o Vaca, tendo experimentado cigarros e bebidas alcoólicas. Estava indo pelo mesmo caminho de meu pai.  
Esse período posso dividí-lo em três: Quando nos mudamos, na troca de casa; quando o Alceni fez a maior burrada de sua vida (escreverei sobre isso em outro post); e quando retornamos a morar ali no mesmo lugar, só que nos fundos da nossa antiga casa, onde moramos até 2003.
Posso considerar que fora um período negro da minha vida. Não pelos amigos que eu fiz por lá, mas pelas más influências, principalmente a do Vaca. Nessa época também já não aceitava mais imposiões de meu pai. Eu me lembro que a gente brigava de cabo de vassoura. Depois da briga eu saía de casa e só voltava quando ele me chamava. As vezes ficava meses fora de casa.
Certa vez, talvez seja a partir desse momento que conheci o Vaca de verdade, nós brigamos feio. Eu me lembro que tinha um cabelão, não comprido, mas muito grande. Ele saíra do boteco do Vaca, que ficava cerca de 50 metros de nossa casa; não sei porque, ma ele veio sorrindo e eu já achei que vinha bronca por ali. Dito e feito. Parecia que tinha prazer de maltratar os outros. Veio na minha direção, agarrou-me pelos cabelos e me soqueou todo. Eu só me desvincilhei quando lhe dei uma mordida. Ele me soltou e ficamos nos agredindo mutuamente, física e verbalmente. Eu nunca me esqueço desse dia. Era forte do inverno. Naquela noite eu dormi numa barraca feita no campo Topetão, que servia de vestiário e local de reuniões do time. Aquela foi uma das noites mais fria e mais triste da minha vida. Era eu, o Bob, o cachorro do Negão Rafa e um fogo amigo; mais nada. Parecia que o dia nunca chegava.
Depois eu sumi. Ficava cada dia na casa de alguém. A partir desse dia eu me tornei um homem e mandei o Vaca, o Alceni e não sei mais quem à "merda", "puta que pariu", não sei mais o que.
Hoje posso dizer que foi um tempo difícil, mas também de aprendizado. Não seria o que sou hoje se não tivesse passado por isso. Nem tudo é espinho, existem flores também nesse jardim.

23 de jun. de 2010

A Troca de Casa

Era fim de 93, inicio de 94, nessa época percebi que mudaríams de casa mais uma vez. Havia um alemão, de nome Francisco, meio esperto, trovou meu pai para trocarem de casa. Não sei se foi a vontade de mudar de casa ou foi pela vontade de ficar mais próximo do boteco do Vaca que o fez aceitar a permuta. Só sei que aceitou de pronto.
Ele trocou uma casa na Avenida Vinte e Sete de Janeiro, principal via da cidade, por uma casa nos fundos da Vila Kennedy; para aumentar o desespero, por uma casa pior; tremenda burrice.
A casa da Vinte e Sete de Janeiro era bem melhor. A casa do Mutirão III, fora aumentada, contruído dois quartos, um de casal e um de solteiro, por isso até parecia grande. O terreno era a metade. Sem considerar a localização. É só comparar: Vinte e Sete de Janeiro, 2.412 com Antonio Lino de Souza, 06. Inacreditável. Uma casa valia vinte por cento da outra. Anos mais tarde passei por aquela que fora nossa casa um dia: construíram verdadeira uma mansão ali. O melhor de tudo era que dava frente para duas ruas. Na época em que nós morávamos não era uma casa esplenderosa, mas era melhor do aquela com que fora trocada. Infelizmente são coisas da vida. Na vida tudo passa, menos a morte, essa nos pega sempre.
Não saberia dizer com certeza qual foi a negociação. Mas me lembro que na troca ficavam de fora as aberturas. Então me lembro que foram retiradas algumas janelas e portas. Meu pai colocou outras depois. Lembro-me que tinha qualquer coisa referente a setecentos pilas, o que daria em reais coisa parecida com R$ 1.000,00. Uma verdadeira pechincha. Mas fora mais ou menos assim. 
Ficamos ali nessa casa por apenas alguns meses. Logo ele fez outra burrada ainda maior. Mas isso é assunto para depois. Só sei que essa mudança encurtou ainda mais os laços de amizade entre meu e o Vaca. O Vaca, sempre o Vaca, já estou até enojado de falar desse cara; mas é assim mesmo. Depois o Vaca passou a perna nele, tirou tudo que ele tinha. Mas ele continuva puxando saco do Vaca. Era uma paixão doentia.
Entretanto, se por um lado isso, por outro, eu não posso reclamar, não da casa, mas do lugar. Ali eu fiz grandes amigos, aprendi lições valiosas. Eu saí em 94, voltei em 95 e só saí de novo em 2003. Até hoje eu posso visitar meus amigos daquela parte da cidade. Isso sim valeu a pena. Isso ninguém nos tira. Podem nos tirar casa, emprego, mulher, mas os verdadeiros amigos ninguém pode tirar-nos. Somente isso e o conhecimento que temos é que levaremos conosco, o resto é passageiro. Por isso eu não reclamo.

18 de jun. de 2010

Bolo de Chocolate

Quando eu começo a escrever algo sobre minha vida, fico analisando tudo que já me aconteceu até aqui. Sucederam-me muitos eventos. Alguns bons, outros nem tanto. Eu não quero passar para o leitor uma imagem de infeliz, coisa que eu não sou. Também não desejo, em hipótese alguma, que alguém sinta pena de mim. Odeio o sentimento de pena. Acho que é o pior sentimento que uma pessoa pode sentir por outra. Porque quando sentimos pena de alguém é como nos sentirmos superiores ou que aquela pessoa não passa de um "Zé NInguém", um infeliz, cuja existência não vale de nada. Não, isso eu não desejo que as sintam por mim. Não quero que leiam o que eu escrevi e digam que sou um pobre coitado; muito ao contrário, quero que as pessoas me vejam como alguém que deu a volta por cima e reconquistou tudo aquilo que fora perdido, e o mais importante: a dignidade. Ela fora jogada fora, mas a reconquistei. Hoje vivo bem. Com a ajuda de algumas pessoas pude superar o trauma de praticamente viver na rua e conquistar tudo novamente. Hoje sou uma pessoa que pode se orgulhar de ter passado todas as barreiras da adversidade e superado as dificuldades da vida. Aprendi muito com isso. Isso me fez crescer, tanto profissionalmente, tanto como pessoa humana. Por isso não quero que ninguém pense que sou um coitadinho. Ok? Valeu galera.
*****
Bom dito isso vou à história de hoje. Era meu aniversário de nove anos. Já estava ficando velho. Eu nunca tive uma festa de aniversário de verdade. Nunca, nem depois de velho. Hoje eu nem me importo mais com isso.
Quando era garoto só queria esperar os anos passarem. Quando se é adolescnte, queremos logo chegar a maioridade, "pra ser dono do seu próprio nariz"; entretanto, quando a maioridade chega, dá uma saudade e queremos voltar a ser jovem de novo, para tentar viver aquilo que desperdiçou quando adolescente e tentar consertar os erros. As vezes eu sou assim. Quero voltar, mas não é possível.
Porém, voltando ao assunto, eu recordo que era de 93, primavera, eu tive então, uma mini-festa, se é que possível dizer assim. Era um bolo de chocolate, bem grande, e "ki-suco". O bolo feito, advinhem por quem!!! É, pelo meu pai. De vez em quando ele era bondoso e fazia as coisas pra gente. Até então, eu não sabia o que era ter um bolo de aniversário. Já tinha comido, é claro, mas no aniversário dos outros, no meu não.
Mas nesse dia eu tive alguns minutos de alegria. Eu e meus comemos um bolo de chocolate feito por nosso pai. É verdade, não era um super-bolo, mas o vale é a intenção e a dedicação que se coloca em alguma coisa. Pronto. Das pequenas e simples coisas, são feitas grandiosas obras.
As vezes precisamos fazer algo tão pequeno para ajudar ou fazer alguém feliz, mas queremos fazer sempre o mais dificil. É a nossa falta de perceptividade.


15 de jun. de 2010

Alceni Covarde

Poucas pessoas pessoas entendem hoje quando eu falo do Alceni, meu pai. Muitos dizem que coisas do passado lá devem ficar e se, Deus perdoou a todos, porque eu não haveria de perdoar. Bom, Deus é Deus, eu sou eu. Sou Jesus, mas também sou humano, tenho as minhas fraquesas e não deixo de ter razão. As pessoas que me criticam não sabem pelo que eu passei e que eu vi passarem minha mãe e meus irmãos menores. Talvez se tivessem presenciado dez por cento não teriam coragem de dar uma opinião contrária sequer.
Pois é pessoal não me critiquem. Eu sou assim mesmo. Tenho dificuldade de esquecer as maldades que me fazem.
Poderia enumerar aqui muitas de suas atrocidades, mas não o farei, por dois motivos; um porque não faço questão de ficar remoendo pesadelos do passado; outro, porque não sei até onde podem ir minhas palavras e posso até magoar alguém. Essa com certeza não é a minha intenção.
Mas vou citar duas apenas, para resumir a história e para que os leitores possam ter uma ideia de como ele era. Quero apenas releembrar aqui que eu e ele passávamos brigando, para que não digam que eu não fiz nada; entretanto, nos episódios de maior dor, eu era muito pequeno, quase nada poderia fazer, portanto. Depois que eu cresci ele diminuiu um pouco, por eu tentar controlá-lo e também por causa da cachaça, que o destruiu completamente. Ela foi culpada de tudo; ela e o Vaca.
Não sei precisar a data, mas faz muito tempo. O Alceni tinha um problema: era impaciente. A Márcia tinha meses de idade, um ano talvez. Como toda criança, certa noite se botou a chorar sem parar. Não sei o motivo, mas chorava muito. Talvez estivesse doente, com cólicas, ou fosse apenas manha, o certo é que não necessitava tanta maldade. Lembro-me que me levantei durante a noite e vi aquela barbaridade. Ficava ali imaginando por que tudo tinha que ser daquela forma. Por mais que eu tentasse achar uma razão para justificar tal ato, não conseguia. A guria chegou a se cagar nas calças de tanto tapa que levava. O que mais me surpreendia era que a mãe nada fazia, não sei por que, talvez estivesse com medo também. Mas era cruel, toda vez que bebia fazia destas coisas.
Uma outra vez, a vítima foi o Paulinho. Paulo era deficiente, tinha dificuldades para se locomover. Estávamos indo todos para casa depois de uma festa na casa do Vaca, no Mutirão III, atravessávamos o campo do Florestal, quando o Paulo disse, meio sem querer que ele estava bêbado (e estava), quando de repente levou um tablefe. Paulo contava com nove ou dez de idade, já demostrava que em pouco tempo deixaria de caminhar. Levou aquele tapa e ficou no chão sem ter forças para levantar-se. Eu o ajudei a levanta-se. Hoje, ao lembrar dessa cena fico constornado. Agora em agosto fará dez que ele faleceu. Eu nunca esqueço dele, porque muito o cuidei.
Essas e entre outras covardias eu presenciei. As pessoas que talvez não saibam disso, não entendem o ódio que eu sentia pelo Alceni. Jamais consegui perdoá-lo. Muitos me criticam por causa disso. Não posso fazer nada. Eu sou assim mesmo, não consigo ser falso. Se eu penso alguma coisa, trato logo de mostrar. Eu não fico fingindo o que eu não sou. Quem me conhece sabe disso.




7 de jun. de 2010

O Nascimento da Sheyla

As vezes os acontecimentos são tão importantes na nossa vida que guradamos por anos, muitas vezes até a morte. Muitas coisas levamos conosco no caixão, não compartilhamos com ninguém. Mas não existe nenhum segredo indecifrável. Um dia eles vão ao conhecimento das pessoas.
Mas acho que as coisas devem ser compartilhadas, principalmente o conhecimento. A única coisa que podemos dizer que nos pertence de verdade é isso e ninguém poderá nos tirar. É o único bem verdadeiramente que possuímos.
O que eu quero dizer é que o objetivo deste blog não é contar minha vida a ninguém, mas sim uma troca de experiência, onde eu posso dizer que aprendi muito. Essa é a experiência da minha vida. Vivi pouco, é verdade, mas tenho experiência pra dar e vender. Por isso eu compartilho aqui todas essas historias, mui verdadeiras por sinal, para que todos no mínimo saibam pelo que eu passei. Estejam todos livres para comentar, elogiar, criticar, dar sugestões, pois afinal aqui é um canal de comunicação.
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Bom, o que eu queria escrever hoje é outra coisa. A mãe tem um monte de filhos, era uma fábrica de crianças. Era efeito "escadinha", as vezes a diferença de idade era inferior a dois anos. Incrível, mal uma começava a caminhar e ela já estava prenha de novo. Não critico isso, acho que fez parte de uma época, e os frutos estão aí, vejam só por mim, haha.
O normal é que as crianças nasçam no hospital com todo acompanhamento médico, higiene, segurança, etc. Eu disse que era o normal, mas há excessões, é claro. O exemplo dessa excessão é a Sheyla, a mais nova de minhas irmãs. Hoje quem a conhece nem imagina que ela nasceu em casa, em cima da cama da mãe. Isso mesmo, a mãe deu a luz à Sheyla em casa. Quando menos se esperava, puf, a Sheyla veio ao mundo.
Era final de 92, inicio de 93. A mãe fora diversas vezes ao médico e só diziam que não era o momento, que deveria esperar mais um pouco, que talvez para o final de janeiro. Mas eles erraram os prognósticos.
Eram 02 de janeiro de 93, começo da noite, uns gritos são ouvidos. Era a mãe numa gemedeira só. Não vai dar tempo, não vai dar tempo, era o que se ouvia. E não deu tempo mesmo, em seguida se ouviu um chorinho de criança. A cama dela ficou toda ensanguentada. Era a Sheyla que chegava de repente.
Eu me lembro que para fazer o serviço de parto foi chamado uma "nega véia", que morava ali nas proximidades, acostumada já com esse tipo de serviço. Até hoje eu me lembro da pessoa, mas nunca consegui gurdar o nome. Sei que ela é gente do Amaro Junior, que moravam ali na XV de Novembro, próximo ao colégio.
Foi uma obra-prima. Quando a mãe foi ao hospital, foi só para fazer repouso, porque não tinha nenhum procedimento médico a ser feito. Incrível. Como as pessoas de antigamente sabiam fazer de tudo. Hoje vivemos a época do "fordismo", onde as pessoas são treinadas para fazer uma única coisa, para se produzir em larga escala. Admira-me também a coragem, tanto daquela mulher, que fez o trabalho com destreza e esmero e da minha mãe, não deve ser fácil passar por uma situação dessas. Eu vejo hoje as mulheres muito fiasquentas para ter um filho; não pode isso, não pode aquilo, tem que ir para o hospital não sei quantos dias antes, enfim uma infinidade de frescuras. Eu sei, era outra época.  

2 de jun. de 2010

A Minha Infância

Sempre quando me lembro da minha infância, vem-me à cabeça os brinquedos. Não eles, mas a sua falta. Nunca tive quantidades de briquedos a ponto de exuberar. Meus pais naquela época não tinham dinheiro para me dar brinquedos. No máximo um carrinho, um bonequinho, uma bola, nada mais. Também não se pensava em jogos de "video game", computador então, nem se considerava a sua existência.
Hoje as crianças têm tudo e não dão valor; elas perderam um pouco da criatividade e até do respeito ao próximo. Por não ter tantos brinquedos, talvez eu tenha aprendido uma das maiores lições da minha vida: fazer as coisas em equipe e a compartilhar. Hoje, em virtude de ficarem muito tempo na frente do computador jogando, msn, comunidades sociais, etc, as crianças ficam muito individualistas e egoístas. É uma pena, estão perdendo o melhor da infância. Infância fica melhor quando se tem amigos, se pode ficar na casa dele de vez em quando e ele na nossa, é se sujar sem que a mãe brigue, jogar bola na frente de casa, brincar de luta e até brigar; isso faz parte de nosso crescimento e aprendemos lições que levaremos para vida toda.
Meus amigos de infâcia eram todos meus primos. Quando eu era criança dificilmente meus pais deixavam eu sair de casa, portanto, meus amigos eram meus primos, pois estes eu podia visitar.
Eu disse que não tinha quase brinquedos, mas o Cris tinha. E muitos. Eu me lembro que quando ia na casa dele, a Catita sempre vinha com saco cheio de brinquedos, um saco daqueles de telinha, de cebola, e esparramava tudo no chão. Enquanto ela e minha mãe ficavam tomando mate, eu e Cris ficávamos brincando. Mas eram muitos brinquedos mesmo. Tinha "homenzinho", soldadinho, cavalinho, caminhão, carros; tinha uns bonecos que funcionavam à pilha que quando ligava fazia uns barulhos estranhos, parecendo estar em um combate. Tinha também o homem aranha, super-homem e uma infinidade de brinquedos. Era uma maravilha tudo aquilo pra dois guris de sete ou oito anos.
Fora isso, todas as outras brincadeiras eram feitas sem brinquedos. Com os outros primos as brincadeiras eram um pouco diferentes. O Pio e o Rafa eram bem mais soltos que o Cris. Então nós brincávamos na rua. Jogando bola, fazendo brinquedos de greda, "tampicross¹", andar de bicicleta, pega-ladrão, entre outras bricadeiras de guri. Às vezes eram tanta gente envolvida, que a brincadeira virava um "frege". Às vezes a gurizada se pegava a pau, mas isso fazia parte da integração, logo estavam todos de bem novamente.
O único porém eram os guris mais velhos. O Cid e o Luis sempre passavam a perna na gente. Inventavam coisas que nunca existiram. Às vezes chegavam a assustar os menores. Usavam muito da superstição para levar vantagem. Inventaram até um tal de Vick-Man, um super-heroi encarnado num deles para exigir coisas. E sempre conseguiam. Eu me lembro até do "sagrado Monte Zebu", uma bobagem que hoje não existe mais. Na realidade era um morro ficava ali nas proximidades do Mutirão III, que eles diziam que era sagrado e as coisas que conseguíamos era para ofertar ao tal heroi, deus, sei lá o quê, nesse morro. Era uma trouxisse, mas era legal a brincadeira.
Entretanto, a brincadeira que eu mais gostava era a "de acampamento". Não só no mato com pescarias, mas também nos fundos do pátio. Nós brincávamos de quartel e guarda. O Cid era o comandante, sempre, era o mais velho da turma; o Luis era o sub-comandante, era o segundo da lista; o restante eram todos soldados e deviam trabalhar, deviam revesar-se na guarda noturna. Os mais velhos sempre achavam um jeito de assustar os já assustados "guardinhas" de plantão na madrugada. De vez em quando o silêncio era cortado pelo grito de "socorro mãe". Não sei mas é primeira pessoa que a gente chama quando está assustado.
Tempo nostálgico. Às vezes paro e quero voltar atrás reviver tudo de novo. Que boa época era aquela, onde não existia maldade e as coisas eram feitas com extrema expontaneidade. Acho que apesar de todos os percalços tive uma infância feliz.

Notas: tampicross: fórmula 1 com tampas de garrafa em pista de areia.