Com los Recuerdos al hombro

FIQUE RICO SEM SAIR DE CASA

15 de jun. de 2010

Alceni Covarde

Poucas pessoas pessoas entendem hoje quando eu falo do Alceni, meu pai. Muitos dizem que coisas do passado lá devem ficar e se, Deus perdoou a todos, porque eu não haveria de perdoar. Bom, Deus é Deus, eu sou eu. Sou Jesus, mas também sou humano, tenho as minhas fraquesas e não deixo de ter razão. As pessoas que me criticam não sabem pelo que eu passei e que eu vi passarem minha mãe e meus irmãos menores. Talvez se tivessem presenciado dez por cento não teriam coragem de dar uma opinião contrária sequer.
Pois é pessoal não me critiquem. Eu sou assim mesmo. Tenho dificuldade de esquecer as maldades que me fazem.
Poderia enumerar aqui muitas de suas atrocidades, mas não o farei, por dois motivos; um porque não faço questão de ficar remoendo pesadelos do passado; outro, porque não sei até onde podem ir minhas palavras e posso até magoar alguém. Essa com certeza não é a minha intenção.
Mas vou citar duas apenas, para resumir a história e para que os leitores possam ter uma ideia de como ele era. Quero apenas releembrar aqui que eu e ele passávamos brigando, para que não digam que eu não fiz nada; entretanto, nos episódios de maior dor, eu era muito pequeno, quase nada poderia fazer, portanto. Depois que eu cresci ele diminuiu um pouco, por eu tentar controlá-lo e também por causa da cachaça, que o destruiu completamente. Ela foi culpada de tudo; ela e o Vaca.
Não sei precisar a data, mas faz muito tempo. O Alceni tinha um problema: era impaciente. A Márcia tinha meses de idade, um ano talvez. Como toda criança, certa noite se botou a chorar sem parar. Não sei o motivo, mas chorava muito. Talvez estivesse doente, com cólicas, ou fosse apenas manha, o certo é que não necessitava tanta maldade. Lembro-me que me levantei durante a noite e vi aquela barbaridade. Ficava ali imaginando por que tudo tinha que ser daquela forma. Por mais que eu tentasse achar uma razão para justificar tal ato, não conseguia. A guria chegou a se cagar nas calças de tanto tapa que levava. O que mais me surpreendia era que a mãe nada fazia, não sei por que, talvez estivesse com medo também. Mas era cruel, toda vez que bebia fazia destas coisas.
Uma outra vez, a vítima foi o Paulinho. Paulo era deficiente, tinha dificuldades para se locomover. Estávamos indo todos para casa depois de uma festa na casa do Vaca, no Mutirão III, atravessávamos o campo do Florestal, quando o Paulo disse, meio sem querer que ele estava bêbado (e estava), quando de repente levou um tablefe. Paulo contava com nove ou dez de idade, já demostrava que em pouco tempo deixaria de caminhar. Levou aquele tapa e ficou no chão sem ter forças para levantar-se. Eu o ajudei a levanta-se. Hoje, ao lembrar dessa cena fico constornado. Agora em agosto fará dez que ele faleceu. Eu nunca esqueço dele, porque muito o cuidei.
Essas e entre outras covardias eu presenciei. As pessoas que talvez não saibam disso, não entendem o ódio que eu sentia pelo Alceni. Jamais consegui perdoá-lo. Muitos me criticam por causa disso. Não posso fazer nada. Eu sou assim mesmo, não consigo ser falso. Se eu penso alguma coisa, trato logo de mostrar. Eu não fico fingindo o que eu não sou. Quem me conhece sabe disso.




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